Mulheres na Ciência: 5 cientistas e suas descobertas que revolucionaram a saúde

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No mês em que celebramos as mulheres, nós, do Base Científica, não poderíamos deixar de trazer um artigo especial para valorizar aquelas que tanto contribuíram para o desenvolvimento científico mundial.

Assim, separamos alguns nomes que contribuíram diretamente para o desenvolvimento da medicina e, consequentemente, da biologia molecular. Nomes que por muitos anos foram ignorados e deixados de fora da história.

Sabemos que muito mudou e que, hoje, as mulheres na ciência estão tendo cada vez mais espaço e oportunidades para exercer suas atividades.

Gerido pela Dra. Alexandra Reis, a equipe do Laboratório Base Científica é composta, na sua maioria, por mulheres altamente qualificadas e preparadas para atender as crescentes demandas do diagnóstico molecular.

Acreditando na gestão feminina, nós abrimos espaço para mulheres que desejam avançar em seus projetos.

Rosalind Franklin – Química e Técnica em cristalografia de raios x

A King’s College guarda a imagem original que Rosalind conseguiu da molécula do DNA.

Nascida em 1920, em Londres, Rosalind Franklin sempre foi reconhecida pela sua grande inteligência. Após obter seu doutorado em físico-química na Cambridge University, seus trabalhos começaram a ganhar destaque.

Seu conhecimento e especialização em cristalografia de raios x foi amplamente aproveitado na produção de máscaras de gás durante a Segunda Guerra Mundial.

Esta técnica foi aplicada antes da Segunda Guerra Mundial para determinar a estrutura de rochas e minerais. Mas depois da guerra houve muito interesse em usar as técnicas da física em aspectos mais relacionados à vida, e foi aí que começou a ser usada para determinar a estrutura das moléculas biológicas.”Miguel García-Sancho, professor e pesquisador de história da ciência da Universidade de Edimburgo, na Escócia. [1]

Na época, uma das grandes questões em discussão no campo das ciências era o DNA – já era conhecido seus blocos básicos, mas não o seu formato e, graças à sua experiência anterior e grande conhecimento em cristalografia, Rosalind foi convidada a trabalhar na King’s College.

Como na King’s College as mulheres não eram bem-vindas nem nas áreas comuns da universidade, a presença delas nos laboratórios era ainda mais rara. Porém, Rosalind dedicou inúmeras horas à pesquisa, usando raios x para analisar as delicadas fibras de DNA.

Em 1952, ela finalmente conseguiu uma boa imagem da molécula.“Tecnicamente era muito complicado e, na verdade, havia pouca gente que dominava como ela esta técnica. E você precisava ter um conhecimento matemático muito avançado para depois poder interpretar as fotos.” diz García-Sancho. [1]

Uma fibra de DNA (à esquerda), um diagrama de difração de DNA obtido por Wilkins e colegas (ao centro), e o diagrama de difração muito mais nítido obtido por Franklin e Gosling (à direita)

Em virtude da qualidade da imagem de Rosalind, ela pode comprovar a existência de dois formatos de DNA – as formas A e B, posteriormente conhecidas como dupla-hélice.

Enquanto tudo isso acontecia, nos EUA, a dupla James Watson e Francis Crick também estudavam o formato do DNA. Porém, como na imagem acima, as imagens que eles conseguiram não eram nítidas o suficiente para nenhuma análise mais aprofundada.

Foi então que Maurice Wilkins, colega de laboratório de Rosalind “compartilhou” a imagem com a dupla e, juntando com seus dados, publicaram na Revista Nature, abril de 1953, a descoberta da estrutura do DNA, rendendo o Prêmio Nobel de Medicina para o trio (sem a menção ao trabalho de Rosalind).

Foi em 1968, com a publicação do livro “A dupla hélice”, do Watson, que a história veio à tona. As pessoas começaram a questionar o trio após o posicionamento do próprio Watson“Rosy [apelido pejorativo usado pelo trio para chamar Rosalind, também citado no livro], claro, não nos deu seus dados diretamente. Além disso, ninguém no King’s College sabia que estava em nossas mãos.”

Cartas trocadas entre Wilkins e Crick foram encontradas em 2012 e, novamente mostrou que a “descoberta” do trio só ocorreu devido aos estudos de Rosalind. [2]

Aos 37 anos, Rosalind faleceu em decorrência de um câncer terminal, provavelmente provocado pela alta exposição à radiação dos seus estudos. Sem ter seu nome citado em nenhum desses trabalhos, hoje ela é reconhecida pelos seus esforços e enorme contribuição à medicina.

Esther Lederberg – Microbiologista

Nascida em 1922, no Bronx – EUA, Esther Lederberg se formou com honras em bioquímica aos 24 anos e, logo garantiu seu mestrado em genética na Universidade de Stanford.

Enquanto fazia a sua graduação, Esther trabalhou como assistente de pesquisa do fitopatologista Bernard Ogilvie Doge que a apresentou ao comportamento molecular de alguns organismos.

Foi durante seu mestrado que foi contratada como assistente de pesquisa dos geneticistas George W. Beadle e Edward Tatum na Universidade de Stanford e passou a fazer parte da equipe que investigava a genética da bactéria para aumentar a produção de penicilina.

Seu trabalho foi fundamental na conquista do Prêmio Nobel (1958) pela descoberta do papel dos genes na regulação de eventos bioquímicos nas células.

Mas a sua maior contribuição foi a descoberta do fago lambda ao concluir seu doutorado em 1950.

Esther o detectou ao observar padrões irregulares em uma cultura com diferentes colônias da bactéria Escherichia coli K-12 (E-coli), incluindo uma cepa que havia sido irradiado com luz ultravioleta, chamada W-518.

O que ela constatou foi que, algumas das colônias pareciam estar faltando alguns segmentos. Com mais estudos Esther foi capaz de mostrar que o fago lambda se comporta de maneira diferente de outros vírus conhecidos.

Ao contrário de outros vírus que se multiplicam rapidamente dentro de uma célula hospedeira e a matam, o fago lambda integra seu DNA ao da bactéria infectada. Isso permite que o vírus transmita suas instruções genéticas para produzir vírus descendentes para novas gerações de bactérias sem destruir o organismo hospedeiro. [3]

Ela ainda estabeleceu que o processo era auxiliado por um mediador nomeado de ‘Fator de Fertilidade F’ e, que o material genético viral permanecia dormente, a menos que a bactéria estivesse sob estresse.

Hoje, o fago lambda é uma ferramenta chave na Biologia Molecular.

Ainda, em 1951, Esther inventou a técnica chamada “placa réplica”. O método permite a replicação de colônias de bactérias em uma série de placas de ágar com exatamente a mesma configuração espacial.

Essa técnica forneceu a primeira maneira de provar que bactérias desenvolvem resistência a antibióticos espontaneamente. Anteriormente, os cientistas presumiam que essa resistência era causada pela exposição a um antibiótico. [3]

Nettie Stevens – Geneticista

Nascida em Vermont, EUA, em 1861, Nettie Stevens precisou percorrer um longo caminho para atingir seus objetivos.

Enfrentando dificuldades financeiras e sociais, precisou de mais tempo para finalizar a escola e, aos 35 anos conseguiu entrar na Universidade de Stanford para estudar biologia. Seu interesse por genética aumentou com o tempo e conquistou seu doutorado aos 41 anos e continuou seus estudos até seus últimos dias.

O primeiro campo de pesquisa que Nettie investigou foi a morfologia e a taxonomia dos protozoários ciliados. Mas ela logo se voltou para a citologia e o processo regenerativo.

Na época, uma das principais dúvidas na genética era sobre o que determina o sexo do bebê. Por muitos anos acreditava-se que fatores externos como a alimentação da mãe e a época de concepção eram determinantes.

Nettie começou investigando a questão através da dissecação de insetos.

Suas observações sobre a regeneração a levou a um estudo da diferenciação em embriões e depois a um estudo dos cromossomos. Em 1905, após experimentos com a larva-da-farinha-amarela (Tenebrio molitor), ela publicou um artigo anunciando a descoberta de que uma determinada combinação dos cromossomos conhecidos como X e Y era responsável pela determinação do sexo de um indivíduo. [4]

Essa descoberta, também anunciada de forma independente naquele ano por Edmund Beecher Wilson, da Universidade de Columbia, não apenas encerrou o longo debate sobre se o sexo era uma questão de hereditariedade ou influência ambiental embrionária, mas também foi o primeiro elo firme entre uma característica hereditária e uma determinada condição cromossómica. [4]

Mayana Zatz – Geneticista e bióloga molecular

Nascida em Israel, 1947, Mayana Zatz mudou-se para o Brasil em 1955 onde cursou biologia e teve seu primeiro contato com genética humana. Pela USP, tornou-se mestra em genética, com dissertação sobre distrofias musculares progressivas e doutora em genética, em 1974, e hoje atua como professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.

Percebendo a precariedade dos tratamentos de doenças musculares no Brasil, Mayana fundou, em 1981, a Associação Brasileira de Distrofia Muscular, onde ainda é diretora presidente, e também montou um laboratório de pesquisas em miopatias hereditárias.

Em 1995, Mayana e sua equipe conseguiram localizar um dos genes ligados a um tipo de distrofia dos membros e, juntas também foram responsáveis pelo mapeamento do gene responsável pela síndrome de Knobloch – uma doença genética de herança autossômica recessiva. [5]

Ganhou vários prêmios nacionais e internacionais – Recebeu a ordem nacional de grã-cruz de mérito científico. Entre os prêmios internacionais destacam-se o LÓreal/Unesco para mulheres na ciência (2001) prêmio TWAS em pesquisa médica (2004) prêmio México de Ciência e Tecnologia (2008) e prêmio Conte Gaetano por trabalhos sociais (2011).

Mayana também coordena um CEPID: Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e células-tronco e um INCT: envelhecimento e doenças genéticas: genômica e metagenômica.

Barbara McClintock – Citogeneticista

Filha de médico, Barbara McClintock nasceu em 1902, em Connecticut – EUA e contou com o apoio do pai desde o início.

No ensino médio descobriu seu amor pela ciência e entrou na Faculdade de Agricultura de Cornell, em 1919, já que mulheres não podia cursar genética na época e, foi na mesma faculdade que conquistou seu doutorado em Botânica.

Em Cornell ela começou a estudar sobre a citogenética do milho e caracterizar seus cromossomos, mas foi no centro de pesquisas em Cold Spring Harbor que pode explorar suas ideias.

O milho era o objeto de estudo perfeito – com grãos de cores diferente que cresciam numa mesma planta, intrigou e impulsionou Barbara nas pesquisas que passava horas estudando suas células.

Através da microscopia ela conseguiu rastrear as mudanças relacionadas à pigmentação dos grãos, assim, isolou dois genes “elementos de controle” que tinham a função de regular os genes responsáveis pela pigmentação. [6]

Durante suas observações, a pesquisadora descobriu que tais elementos de controle podiam se mover ao longo do cromossomo e que, além disso, essas mudanças afetavam o comportamento dos genes vizinhos. A partir daí, Barbara sugeriu que esses elementos transponíveis eram responsáveis ​​por mudanças na pigmentação e outras características externas do milho[6]

A descoberta de Barbara mudou, literalmente, o conceito de genoma que vigorava na época, porém, somente 30 anos após essa descoberta que seu trabalho foi oficialmente reconhecido com o Prêmio Nobel de Fisiologia, se tornando também a primeira mulher a receber esse prêmio sozinha.

Mais Mulheres na Ciência:

  • Ester Sabinomédica brasileira, pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IMT-FM-USP) e coordenadora do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus, também participa de projetos relacionados a segurança de transfusão sanguínea, coordenou a equipe responsável pelo sequenciamento do coronavírus no Brasil.
  • Elizabeth Blackwell – primeira mulher nos EUA a receber diploma de medicina, Elizabeth descobriu que as condições sanitárias de hospitais e clínicas agiam diretamente na propagação de doenças. Passou sua vida defendendo padrões de higiene mais altos para as instituições de saúde.
  • Alice Ball – primeira mulher afro-americana a se formar na Universidade do Havaí, Alice desenvolveu o único tratamento eficaz para a hanseníase até a criação dos antibióticos, na década de 1940.
  • Gerty Cori – primeira norte-americana a receber um Prêmio Nobel, junto do marido descobriu como nosso corpo converte glicose em lactato usando os músculos e o fígado, processo que recebeu o nome de “Ciclo de Cori”.
  • Rita Levi-Montalcini – descobriu o fator de crescimento nervoso (NGF), uma proteína que regula o crescimento dos nervos e mantém nossos neurônios saudáveis. Recebeu o Nobel de Fisiologia, em 1986.
  • Gertrude Elion – dedicou a sua vida ao estudo e ao desenvolvimento de diversas medicações. Ela criou remédios para leucemia, impulsionando uma nova era para a pesquisa do câncer. Ganhou Prêmio Nobel de Medicina em 1988.
  • Jane Cooke Wright – desenvolveu técnicas para o tratamento do câncer e novos meios para tratar tumores de difícil acesso, recebendo o apelido de “mãe da quimioterapia”.
  • Rosalyn Yalow – junto do seu colega de laboratório, Rosalyn desenvolveu a técnica de radioimunoensaio (RIA), utilizada até hoje para estudar os hormônios, doenças fatais em fetos, detectar problemas de tireoide e garantir que os bancos de sangue sejam mais seguros. Receberam o Prêmio Nobel em 1977.
  • Elizabeth Blackburn – descobriu que os telômeros são feitos de segmentos não essenciais repetidos de DNA e que quando envelhecemos há o desgaste e dano nos cromossomos. Essa perda ocasiona o mal funcionamento das células causando doenças como câncer, falência de órgãos e Alzheimer. Ganhou Prêmio Nobel de Medicina em 2009.

Essas são só algumas das mulheres que realizaram grandes descobertas e proporcionaram o avanço científico e tecnológico mundial. Assim como na saúde, há grandes nomes em diversos outros campos de estudo.

Portanto, abrir espaços para pesquisas e experimentos é fundamental para a melhoria do meio em que vivemos e você encontra esse espaço no Laboratório Base Científica.

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